Mineirei na vida



Não sou mineira, mas costumo dizer que me "naturalizei" depois de tantos anos nesta terra. Ou melhor dizendo: "mineirei". Mineirei no jeito de falar, no costume do pão de queijo com "cafezim", nas caminhadas na lagoa da Pampulha, na Savassi, nos botecos, nas pousadinhas, nas cachoeiras.

Mineirei nos almoços em Macacos e Ouro Preto e ao responder sempre "Beagá" quando me perguntam onde vivo. Mineirei com meus amigos e amigas de infância - ou como se fossem! - , com meu amor pelos queijos, pela broinha e bolo de aipim molhadinho com coco, com a cachacinha de leve... Mineirei no gosto pelas montanhas e pelas reticências...

"Mineirei" tanto, que há quem se surpreenda quando digo que não nasci aqui. Na verdade, eu mesma me surpreendo e sou acometida de uma leve preguiça ao ter de explicar toda a história de como vim parar na capital das Minas Gerais.

De certa feita, escrevi um conto para uma publicação que reunia a obra de autores mineiros. Os editores gostaram do texto, incluíram uma bonita ilustração a bico de pena e prometeram publicar. Eu sequer me lembrava do pequeno detalhe da minha carteira de identidade que acusava minha "farsa". No dia da vernissage, em conversa com a editora, não me lembro de como surgiu o assunto de "locais de nascimento". E eu, inocentemente, revelei o meu.

- Paraná!
- Mas como? Este é um livro de autores mineiros! - reagiu, indignada, a editora.
- Nossa! É mesmo! Nem me toquei para este detalhe! Mas se vale alguma coisa, sou mineira de coração! *Sorrisinho amarelo*

Acho que ela não gostou. Mas não havia o que fazer. O livro já estava pronto, impresso, editado e devidamente autografado para a meia dúzia de entusiastas que me prestigiou (obrigada, mãe! :). E quer saber? Sinto-me completamente legítima neste imbróglio. Pelo menos jamais escutei um leitor reclamar da falta de "uais" na minha história.

*

Na culinária mineira, dentre os pratos principais, minha preferência explícita é a carne de sol. Envio aqui uma das minhas receitas favoritas, que pode ser tanto um petisco servido em pequenos ramequins, quanto uma grande travessa fumegante, servida com arroz branco. A origem desta receita é controversa: os cariocas a clamam para si e a reproduzem incansavelmente em seus bares, mas eu acho tão mineirinho...

Escondidinho de carne seca

Ingredientes para a massa:

1 kg de mandioca fresca
1 colher de sopa de caldo de frango
1 colher de sopa de manteiga
Água suficiente para cobrir estes itens em uma panela

Ingredientes para o recheio e cobertura:

1 kg de requeijão cremoso em barra
1 kg de carne seca já dessalgada, cozida na água e desfiada, bem macia
2 xícaras de chá de cebola cortada em cubinhos
2 colheres de sopa de alho picado
1/3 xícara de chá de azeite
Tempero a gosto: eu gosto de pimenta do reino e um pouco de cebolinha bem picada.

Ferva a água em uma panela e acrescente a mandioca, o caldo de frango e a manteiga. Deixei cozinhar até a mandica ficar macia. Escorra a água e amasse o conteúdo como um purê. Reserve.

Doure a cebola picada e o alho no azeite, em outra panela. Acrescente a carne de sol e os temperos, e refogue tudo até a carne absorver o sabor dos temperos. Deixe esfriar.

Abra a massa de mandioca no fundo de um refratário ou divida em pequenos potes individuais, da mesma forma, deixando-a com pelo menos 1 dedo de altura no fundo. Coloque o recheio da carne seca. Com a ajuda de uma espátula, cubra a carne com o requeijão. Acrescente um bom parmesão fresco, ralado grosseiramente, e leve ao forno para gratinar.


Observação: Para reduzir o colesterol, sugiro fazer um pouco mais de massa de aipim e misturar o excedente com o requeijão para a cobertura. Assim, utilizamos menos requeijão (mas a textura muda e a cobertura fica mais sequinha e espessa).

Origem da foto: Terra

Comentários

  1. hum... escondidinho! eu fiz um uma vez; quase tive um troço com o purê de mandioca, que ficou a coisa mais grudenta que eu já vi. é que eu sou muito novata na cozinha, então é tudo um grande drama; mas que ficou bom, ficou, afe!

    e até eu que não conheço Minas direito fico questionando como não querer ser mineiro! a comida de lá (daí?) é boa demais.
    tenho boas memórias de Ouro Preto, dos pães de queijo e café e bolinhos mineiramente mineiros que comi por lá.

    =**

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  2. Eu não sou novata na cozinha!
    Mas acho o Ó fazer purê de mandioca...CRUZES!!!
    Haja braço pra virar aquilo na panela...rs...
    Quase morri no dia que fiz...foi a primeira e a última vez, apesar de ter ficado uma delícia.
    Falando em delicia, Grória: Voce fez um lombo assado num dos jantares inesquecíveis do Bonde na sua casa...Lembra? Tenho até uma foto dele! Voce podia postar a receitinha, né?!
    Bjus!

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  3. Nossa, Patto, sabe que eu não me lembro daquela receita? Me ajuda aí, vai... o que que tinha no lombo? Algum molho especial? E de acompanhamento?
    Purê de mandioca é um bom exercício pro "muque"! hehehehe
    Bjos às minhas únicas leitoras. rss

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  4. Tinha maçã, assada junto com o lombo...e um gostinho de limão, bem levinho.
    Vou te mandar a foto depois!
    E vc serviu um arroz bem branquinho, com amendoas levemente torradas por cima, como acompanhamento...ai...que FOME...

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  5. Acho que a foto talvez me refresque a memória! :) Manda, por favor! Beijos!

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