Gelatina que vai e que vem

Em Minas não tem mais couve nos pratos em destaque dos restaurantes regionais. Tem ora pro nobis. O palmito, estrela dos pratos salgados há uns 15 anos, viu o tomate seco tomar seu lugar. E ambos foram substituídos pelos funghi e pelo alho porró.

O jiló, outrora segregado nas mesas, virou estrela do nosso Comida di Buteco (eu mesma venci meu preconceito). Termos como cozinha coletiva, cozinha molecular, slow food e comfort food vão surgindo nas revistas e sites antes de caírem na boca de todo mundo - com o perdão do trocadilho.

Algumas modas vêm e vão: bacalhau, ragus, tartares, o "chá com bolo", que de repente virou uma febre cult, o curry, queridinho dos anos 70 e agora de novo, com a proliferação de restaurantes tailandeses, e até o ratatouille, prato campestre desconhecido até seu ressurgimento no desenho daquele simpático ratinho.

É cíclico. Surgem novos ingredientes, desaparecem outros, voltam a aparecer ambos numa combinação inusitada. E assim descobrimos novos alimentos, desprezamos outros (pobres tachados de demodês... uma injustiça) por algum tempo, para depois voltar a fazer uma receita para "matar a saudade".

Eu tenho saudade das mesas de festas infantis decoradas com potinhos de gelatina. Hoje, as estrelas das festinhas são os cupcakes, balas gelatinosas e cakepops (bolos em palito). O brigadeiro de bolinha foi substituído pelo de colher. E a gelatina, ótimo elemento decorativo, sumiu, virou sobremesa light ou pior: virou sobremesa dos dias em que não tem sobremesa.

Mas não era assim. Lembro-me de folhear as revistas do tipo "Faça Fácil Festas" dos anos 80. Eu queria todas as festas. Por semanas a fio, minha mãe recortava em isopor os bonecos, pintava e aplicava purpurina, enchia balões, procurava materiais inusitados para compor cenários e cozinhava tudo em casa. Meu pai era o DJ e técnico de luz.

Eu olhava as revistas pensando em meu próximo aniversário e ficava encantada com a quantidade de cores possíveis: as mesas mais bonitas tinham bala de coco embalada em papel crepom, imitando grama; bolos cheios de corante formavam castelos; e os potinhos de gelatina viravam uma floresta multicor.

A gelatina de que mais gostava era a gelatina colorida. Às vezes ainda fazemos em casa, e eu volto a ter sete anos quando meto a colher nos primeiros pedaços e sinto o azedinho do limão e a textura lisinha dos pedaços de múltiplas cores.

Assim é:

Ingredientes

4 pacotes de gelatina: 2 verdes (limão), 1 vermelho (morango), 1 amarelo (abacaxi)
1 lata de creme de leite
2 colheres de sopa de açúcar

Fazer três das quatro gelatinas normalmente em potes separados (uma de limão, uma de morango e uma de abacaxi), com cerca de dois dedos a menos de água do que o recomendado na embalagem, para que ela fique mais concentrada. Coloque cada mistura em um potinho separado. Quando elas estiverem frias e durinhas, corte cada uma em cubinhos e reserve, sempre separadamente.

A última gelatina de limão é feita normalmente. Depois de dissolvida, acrescente o açúcar e o creme de leite. Misture bem e acrescente os quadrinhos coloridos. Coloque numa forma e deixe gelar até ficar firme.

E você? De qual prato sente falta?

Foto: Acervo Nestlè