A confortavel simplicidade italiana

Uma ruazinha de Trastevere

Roma, apesar de ser uma capital cosmopolita, ainda tem muito do interior, das donas de casa, dos negocios familiares, das roupas penduradas de uma casa a outra, das comidas e pessoas simples que se viram com pouco. Os habitos alimentares e a cultura sao verdadeiramente marcados por estes traços, pelo menos segundo a minha experiencia por aqui.

Nas lojas, sejam mercadinhos ou um comercio maior, os proprios vendedores iniciam a barganha. Eles parecem gostar deste jogo. O turista pergunta o preço. "Custa tanto", respondem, "mas posso te fazer por tres euros a menos". "Cinco, cinco euros a menos pra voce", antes sequer de termos tempo de fazer aquela cara de quem acha o preço alto. Isto é engraçado e se faz por toda parte. Ja consegui bons descontos por aqui sem nenhum esforço! :D

Na maioria dos apartamentos, pelo que andei sondando com outros estudantes, o espaço é normalmente pouco. Onde estou hospedada, sao dois quartos, um banheiro e uma cozinha. Confortavel, mas com espaço somente para o essencial. Nenhuma area, varal ou varanda. No primeiro dia, olhei em volta, perguntando-me como poderia lavar e pendurar roupa. Hmmm.... Talvez precisasse ir a alguma lavandeira. Quando abri a janela do quarto, porém, descobri: cordas amarradas de uma janela a outra. Um pouco de vertigem e muitos prendedores. Ontem lavei roupa e foi uma ginastica perigosa.


Medo de ver minhas roupinhas la embaixo...

E, claro, a cozinha, como é sabido em todo o mundo, segue a regra da simplicidade, dos ingredientes que podem ser encontrados por toda parte. Vegetais simples, ervas, queijos de todos os preços, pao, um vinho acessivel e muito azeite de oliva: assim se pode viver uma semana, um mes, uma vida.

Em pequenos mercados, encontra-se saladas e sopas prontas, nao industrializadas, mas preparadas por pequenas cooperativas. Elas sao frescas, por isso nao duram mais que dois dias. Esta semana comprei um minestrone de verduras, verdadeiramente honesto, como diria meu avo, que poderia muito bem ser produto de uma "mamma" inspirada. Com batatas, espinafre, ervilhas, cenoura, brocolis, vagem, feijao e ervas, ficou muito saboroso acompanhado de um fio de azeite, um pouco de queijo polvilhado e uma fatia de pao crocante.

Este tipo de "comidinha caseira" parece ser a especialidade por aqui e eu adoro. Outro dia cheguei em casa de uma caminhada fria e chuvosa, apos pegar um metro lotado, cheia de sacolas nas maos, com aquele humor bem tipico de uma situacao como esta. Lilia, uma virginiana italiana que me recebe em sua casa, estava colocando um bolo no forno. Trinta minutos depois, o cheiro do limao morno invadia a casa e minha disposicao mudou radicalmente.

Ela preparou o "ciambellone", um doce feito em todas as casas italianas, em "domingos ou dias de visita", segundo Lilia. Facil, rapido e "comfort food" em sua essencia, este bolinho é maravilhoso se provado ainda quente, recém saido do forno, com uma taça de vinho doce como o Marsala. Mas tomamos com um vinho seco que havia e ainda assim estava excelente. Segue aqui a receita, conforme a propria Lilia, generosamente, compartilhou.


Ciambellone ainda quente com vinho; eu poderia jantar apenas isto

Ciambellone al limone

3 ovos
Raspas da casca de 1 limao (o ideal é o siciliano)
300 grs. de açucar mascavo (pode ser branco tambem)
150 gramas de iogurte
300 grs. de farinha
150 a 200 ml. de azeite de oliva OU 70 grs. de manteiga
1 colher (cha) de fermento

Abra os ovos, bata até formar um pouco de espuma e misture-os ao limao. Sempre misturando, acrescente o açucar, o azeite, o iogurte e a farinha. Ao fim, coloque o fermento e misture bem. Disponha numa forma untada e leve-a ao forno alto (220 graus) por 40 minutos.