Tapeos y mojeteos

Quando assimilamos um novo hábito a partir de uma viagem, é sinal de que esta viagem cumpriu seu dever. Conhecer um novo lugar e uma nova cultura atingem o ápice de seu sentido quando levamos para casa não um souvenir, mas um aprendizado, algo que muda, mesmo que minimamente, nossa vida ou nossa forma de enxergá-la. E apesar de não me lembrar muito bem da Espanha - fazem cinco anos que estive por Madri e Toledo -, até hoje levo comigo alguns costumes de lá.

Não me esqueço dos termos, tão divertidos: "Nacho", o apelido de todo Ignacio; "bocadillo", o equivalente a sanduíche; "joder", o mesmo que molestar (se usa por toda parte, sem o sentido ao qual o leitor imediatamente associou); "un rato", um instantinho; "pijarse", morrer de rir; "gorda", ou "hombre", interjeição muitas vezes utilizada inclusive entre amigas ao contar-se casos.

E também "tapeos" e "mojeteos". Aparentemente, é mais comum sair a comer tapas do que de fato cenar, em Madri. De certa feita, antes de eu tomar conhecimento disto, fizemos um grande jantar para dois casais de espanhois que vieram à nossa casa. Grande parte da comida sobrou. Eles se impressionaram com a quantidade de iguarias, mas explicaram que não era de seu hábito comer tanto à noite.

Então, salen a comer tapas, provando um pouco disto e daquilo, entre muitas fatias de pães com coberturas diversas, como acompanhamento de copas variadas. No Brasil, o hábito de comer bruschettas desta maneira, ou como entradas antes de pratos principais, está se popularizando. Isto é muito bom, e as combinações são infinitas!

E como o pão está sempre presente - antes e durante todas as refeições -, o mojeteo é perfeito para aproveitarmos os últimos restinhos daqueles molhos que fizeram um prato tão saboroso. No Brasil, muita gente considera este hábito uma falta de educação. Eu realmente não dou a mínima. Depois da Espanha, se tiver um pedaço de pão por perto, raspo com ele todo o prato. Isto é mojetear, e se faz por toda parte naquele país que sabe comer. O mojeteo é das coisas mais primitivas e confortadoras que existem.

Voltando ao tema de tapas, aí vão algumas combinações rápidas que faço com frequência e sirvo como entradinhas em casa.

Um pão italiano fresco, cortado em fatias largas, com um fio de azeite, é sempre a base. Por cima, pode-se colocar uma combinação de fatias finas de abobrinha e cogumelos (ok, eu uso em conserva, admito), com lascas grossas de parmesão, e mais um fiozinho de azeite sobre a cobertura. Esta eu mesma criei.

Uma outra possibilidade bem comum é cobrir a rodela de pão com quadradinhos bem miúdos de tomate, rodelas finas de um queijo branco que tiver à mão e manjericão desidratado esfarelado por cima. Este é um dos poucos casos em que prefiro utilizar a erva desidratada, porque as bruschettas vão ao forno e secam as folhas, de qualquer forma. Ao menos desidratadas elas ficam mais bem distribuídas.

Na Espanha, come-se muito uma bruschetta de queijo brie ou camembert com uma fatia de jamón - o presunto cozido que é orgulho nacional.

Também pode-se sofisticar um pouco o preparo da bruschetta, colocando sobre o pão uma variedade de cogumelos bem picados, refogados em azeite, cebola e molho shoyu. Pode-se usar, por exemplo, uma mescla de cogumelos paris, shitake e shimeji frescos. Mais um fio de azeite, tempo suficiente no forno para que a base do pão fique bem crocante, e violà, ou melhor: a comer, gorda!

Foto: Editora Abril