As famílias e as carnes que escolhemos

Dá para alimentar uma família de seis pessoas com este lombinho


Sempre me ressenti por viver a, no mínimo, 500 quilômetros de distância da minha família. Foram circunstâncias da vida, mas lamento não ter podido conviver por mais de algumas horas por ano com tios, primos, avôs e avós por quem tenho tanto carinho. Às vezes me surpreendo com o tamanho dos primos mais novos, que crescem a olhos vistos, 15, 20 centímetros por ano, enquanto eu, inocentemente, ainda penso em qual brinquedo darei a eles de presente de Natal. Eles devem pensar que a prima de BH é "sem noção".

À distância, portanto, acabei cultivando uma familinha por aqui. Entre os muitos núcleos desta família, está um grupo de mulheres que apelidamos carinhosamente de "O Bonde". A origem do nome remonta a eras mesozóicas que não convém lembrar. Sua formação é flexível e aceita novas convidadas com frequência, sem frescuras.

Como uma família que se preze, O Bonde se reúne para celebrar datas como aniversários, feriados, fins de semana, promoções, empregos novos, bolsas novas, novos namorados, noivado de uma ou de outra, retornos de viagens legais, términos de relacionamentos falidos e, é claro: Natais! :)

O primeiro Natal do Bonde foi em minha antiga casa. Decorei tudo com velas, miniaturas de árvores espalhadas, guardanapos vermelhos, anjinhos e luzinhas pisca-pisca. Consegui um efeito muito legal colocando uma trilha de luzinhas em volta da mesa, porém sob a toalha. (A foto tem paradeiro desconhecido.)

Até hoje, porém, quem melhor se lembra deste Natal, e com mais alegria, é Patto* - alguma coisa deve ter comprometido a memória das demais naquela noite. Enquanto o restante de nós só pensava em beber, gargalhar e tirar fotos ridículas com gorrinhos de Papai Noel, Patto se apaixonou perdidamente pelo lombo.

Agora me recordo. Para fugir da tradicional e batida ave natalina, resolvi fazer um lombo de porco para as meninas. Realmente já havia me esquecido de como preparei aquele prato. Mas ela, não. "Eu não desisti da receita! Como era? Lembro do gosto e do cheirinho direitinho! Tinha gostinho de limão... e maçãs!", exclamou ela em troca de e-mails recente.

Fiz uma busca em meus arquivos, juntei A+B do tipo "não, eu não colocaria isso" e finalmente me lembrei. E fiquei pensando em como a comida também faz parte das nossas memórias afetivas mais bonitas, com seus aromas e sabores que ajudam a compor cenários mentais de alegres momentos. Por isso é tão mágico e essencial cozinhar para aqueles de quem gostamos! :)

Foi assim, Patto, em sua homenagem. Desculpe a demora!

Ingredientes:

4 dentes de alho em fatias
cerca de 1 1/2 kg de lombo de porco
quanto baste de sal
suco de 2 limões
Pimenta-do-reino preta a gosto
3 folhas de louro
6 maçãs cortadas ao meio, retiradas as sementes, com casca
Salsa fresca bem picadinha

Faça incisões de cerca de dois centímetros no lombo com uma faca e tempere com alho, sal, pimenta, limão e salsa. Deixe marinar neste caldo por duas horas. Depois, em cada corte feito, coloque uma rodelinha fina de alho e um pedaço das folha de louro. Cubra com papel de alumínio e leve ao forno médio, pré-aquecido, por uma hora.

Retire o papel, junte as maçãs e deixe assar, regando com o líquido da assadeira (coloque um pouco de suco de laranja para regar, se necessário), até que o lombo esteja corado e as maçãs bem macias.

Para o Natal, servi com uma grande salada de folhas com molho de mel e nozes, e arroz com lascas de amêndoas. (Mais do que isso, Patto, não me peça para lembrar, ok?)


Foto: Arquivo de Patto

* Patto: identidade secreta da ******** :)