Horas lindas em Istambul

Fui a Istambul recentemente a trabalho, um sonho antigo que veio em uma ocasião inesperada. A rotina lá foi intensa, mas consegui passar pouquinho tempo imersa na atmosfera real de Istambul, ou seja: fora do hotel onde realizamos um determinado evento.

Em poucas horas espaçadas, senti os ares antigos, loucos e misturados desta grande metrópole que está metade na Ásia, metade na Europa, e que não podia estar em melhor posição geográfica. E constatei: é preciso voltar com muito mais tempo. E seria preciso também voltar no tempo, se fosse possível tal experiência, à qual a cidade de Istambul convida permanentemente.


Istambul, um mix permanente de todas as suas histórias


Istambul já foi cidade grega-dórica, capital do império romano sob Constantino, do Império Bizantino e do Império Otomano, sob o comando de nada menos do que 31 sultões diferentes. Bizâncio, Nova Roma, Constantinopla ou Istambul, esta cidade iluminada pelo azul do Bósforo e de um horizonte recortado ora por edifícios modernos, ora por domos e minaretes, é talvez a mais bonita que já constou no meu diário de viagens.


O Bósforo sob a luz da manhã e os recortes loucos de Istambul


Hospedei-me no Conrad Istanbul, que fica no lado europeu da cidade, onde se proliferam galerias, restaurantes, shoppings, faculdades e automóveis que resultam em um trânsito verdadeiramente caótico. No primeiro dia, no próprio hall do hotel, tomei um chá turco forte e saboroso, para espantar o sono das muitas horas de voo até lá.



Chá turco quentinho e animador para o início da noite

A poucos minutos do hotel, adentrando o continente europeu, está a praça Taksim, no moderno bairro de Beyoglu. A Taksim se abre na ampla avenida İstiklal, restrita a pedestres, com um comércio muito variado e sofisticado.

Levados por um amigo que já conhecia a cidade, entramos no número 163, um pequeno prédio escuro, do século XIX, já desgastado e quase invisível em meio a tantas vitrines chamativas. Subimos de elevador até o sexto andar e subimos mais dois andares de escada - não sabemos porquê, o velho elevador não vai até o oitavo. O estranho percurso nos levou até o restaurante 360, um dos mais comentados na cidade, por sua vista de tirar o fôlego e por sua culinária ousada. Neste dia, tivemos sorte com a vista e o vinho turco, do qual provamos tinto e branco, ambos secos, de surpreendentemente boa qualidade.


A espetacular vista noturna do restaurante 360, que também vira balada lá pelas tantas

No sentido oposto, à direita do hotel Conrad, uma ponte leva ao lado asiático, onde estão a cidade antiga, o bairro de Sultanahmet, com a Mesquita Azul, a Igreja de Santa Sofia, a Cisterna Substerrânea, o Grand Bazaar e o Mercado de Especiarias (aos quais, infelizmente, não pude ir - nota mental para a próxima viagem), o Palácio de Topkapi e muitas escavações arqueológicas. Passamos rapidamente pela maioria destes pontos turísticos, todos belíssimos, mas só foi possível entrar para conhecer demoradamente a mesquita e o museu que já foi igreja e mesquita.


Aya Sofya, uma enciclopédia da história das religiões e da política daquela região


Na Mesquita Azul, única da cidade com seis minaretes, os visitantes devem tirar os sapatos e, no caso das mulheres, cobrir a cabeça para entrar. Lá dentro, um infinito carpete vermelho contrasta com os milhões de detalhes dos mais variados tons de azul, em toda a imensidão de suas reentrâncias e de sua grande cúpula. Mesmo com o zumbido da horda de turistas, a mesquita do Sultão Ahmed, que tem pouco mais do que a idade do Brasil, abriga uma atmosfera de paz e de contemplação.


A Mesquita Azul e seus lindos contrastes

Mais adiante, o Corno de Ouro, como é chamada uma península que forma um porto natural, abriga a Torre de Gálata, uma medieval e solitária torre que se vê de quase toda a cidade. Bela.

No domingo à tarde, o largo que se estende entre Aya Sofya e a Mesquita Azul é tomada por famílias, casais, turistas e vendedores de todos os tipos de produtos. Um dos mais interessantes é o suco de romãs, o "Viagra Turco", segundo propaganda (suspeita) de um vendedor empenhado em fazer lucro. Que a bebida é forte, isto o é...


"Turkish Viagra, five lira!" Que assalto, seu moço.


Isto tem um nome, mas eu realmente não sei pronunciar e tampouco escrever. São como panquecas salgadas


Milho e castanhas na brasa perfumam os ares de domingo


As famosas tramas turcas, em pashminas e lenços de todos os tamanhos, tem bom preço e lindas estampas também, entre as vendedoras de rua do local.


Comprei um, a oito liras turcas, uma pechincha


Mas o domingo se foi, com o sol, as vozes dos vendedores e os cânticos das mesquitas que ressoam convidando às orações. O último taxista foi gentil e honesto e nos levou sem dar voltas ao hotel, enquanto eu e minha companheira de "tour" desabávamos, exaustas, no limpíssimo banco de trás de seu veículo. Passei ainda por algumas lojas, restaurantes e no fim da noite até consegui sair de novo, antes de deixar Istambul tendo aprendido a dizer "teşekkür" e pensando em quando seria possível voltar.

Comentários

  1. Para um olhar atento e uma mente astuta, poucas horas são suficientes para sorver o que de melhor pode oferecer uma cidade mítica e mística como Istambul... Belo texto!

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  2. Nossa grória!! Como sempre, seu texto leva a gente lááááá onde voce foi e parece que dá até pra sentir todos os aromas exóticos...
    Saudade do blog e de voce mais ainda, claro! E amei o gatinho da foto!!!

    bjus, Patto.

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