Sessão de terapia: maçãs assadas com cream cheese

Sine cerere et baccho friget venus - Sem comida e bebida, esfria o amor, diziam os antigos romanos. Eles estavam certos

Um trabalho grandioso que tem se revelado na televisão brasileira é a série Sessão de Terapia, que passa todos os dias, em episódios curtos, de meia hora, no canal GNT. No programa, o psicanalista Theo (Zécarlos Machado, fantástico no papel) atende, a cada dia, uma sequência de pacientes em sessões superrealistas, ambientadas no consultório do terapeuta. O espectador é como um voyeur que assiste às sessões de terapia dos outros, em seus momentos mais íntimos, densos e frágeis em total exposição.

A graça da série, aliás, é esta. Parar para pensar no que as pessoas dizem dentro de um consultório terapêutico instiga a curiosidade de qualquer um. Em um momento mais reservado da minha vida, em que ando observando mais do que falando, ando viciada na tal série.

Por que nos interessa tanto a vida dos outros? Deve ser porque ela, muitas vezes, é um ponto de partida para repensarmos a nossa própria vida. Olho para os dilemas dos personagens – dos mais diversos e complexos e, como falei anteriormente, muito realistas e bem construídos – e fico buscando, aqui e ali, similitudes com questões pessoais. É como uma terapia pessoal também, mas de muitos milhares de pessoas ao mesmo tempo.

Isto tem me recordado, repetidas vezes, das minhas próprias sessões de terapia com a Marisa, que me atendeu por alguns anos. Exploramos inúmeros cantos obscuros da minha mente que, ao virem à tona, trouxeram clareza, entendimento e novas formas de lidar com os mesmos problemas.

Lembro-me quase diariamente de uma de suas lições (e este é o motivo de este texto estar aqui, neste blog): certa vez, ela disse que a forma como lidamos com os alimentos é diretamente relacionada à nossa construção afetiva. Isto me vem à cabeça com frequência, pois observo, no meu dia-a-dia, a forma e o conteúdo do que como, de acordo com meu estado emocional.

Também observo, em pessoas entristecidas, amargas, o impulso de comer qualquer coisa, em grandes quantidades, como se isto fosse, mais do que alimentá-las, abastecê-las de um pouco de afetividade. Elas sempre querem mais, mas estranhamente, não se importam muito com isso. Muitos nunca “portam” comida, se esquecem de almoçar, não sabem quanto custa um biscoito, até que uma pessoa “mais afetiva” apareça com uma iguaria – estes, ao contrário, sempre têm uma provisão mínima, uma coisinha na bolsa, um congelado no freezer.

Uma psicóloga de São Paulo, em seu blog, explica esta relação de forma completa e em um texto fácil e gostoso de ler, neste link. 

Acho esta relação estranhamente bonita e ela está ligada à máxima que diz que “cada um só dá aquilo que tem”. Por isso a comida também é um ritual de compartilhamento. Mas também descobri que cozinhar somente para si mesmo, com capricho e concentração, é uma forma de terapia, de fazer um agrado a este ser que é nossa única possibilidade nesta vida. É como um presente para si mesmo.

Hoje choveu o dia todo e eu trabalhei de casa. Foi um dia um pouco vazio de afeto. Saí pouco e não conversei quase nada. Mas por algum motivo, me animei a fazer um pequeno agrado a mim mesma quando tudo ficou mais quieto. Parece um exagero, mas juro que as maçãs assadas com cream cheese foram quase um afago, no fim do dia.

Uma taça de vinho, quatro sessões de terapia em sequência na TV e aí foi lindo.

Maçãs assadas com cream cheese (receita do GNT Gourmet,com medidas adaptadas):

Ingredientes para duas pessoas:

2 maçãs golden ou argentinas

2 colheres (sopa) de açúcar

Suco de 1/2 limão

Canela em pó

Raspas de casca de limão

150 g de cream cheese (um potinho)

½ colher (sopa) de essência de baunilha

Modo de Preparo:

Descasque as maçãs, retire os caroços e fatie. Em uma assadeira ou travessa resistente ao calor, coloque metade das maçãs e espalhe uma colher de açúcar. Coloque a casca de limão e, por cima, ponha as duas maçãs restantes. Regue com o suco de limão e adicione um pouco mais de açúcar e canela a gosto. Cubra com papel alumínio e leve ao forno pré-aquecido a 150ºC. Asse por 35 minutos.

Enquanto isso, bata a baunilha com um colher de açúcar e o cream cheese com uma colher. Resfrie. Retire o papel alumínio da assadeira após 15 minutos no forno e deixe dourar. Sirva quente com o creme frio.